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O BONDE

A casa com muitas portas
e nenhuma saída ou entrada.
O caminho de muitas
voltas, sem retorno.

Havia muitos livros
mas era o mesmo
livro que eu lia
sem fim nem começo.

Depois o bonde me trazia
de onde eu não estivera
ou, estando, não sabia
se ia ou se voltava.

Mas eu ia e voltava
voltava e reconhecia
sem ter visto antes
— se é que eu via.

Não havia ir nem voltar
conhecer ou reconhecer
mas havia, sim, havia
o bonde que ia e vinha.

O caminho é que é
(nem mais) era outro
— estoutro, se dizia —
e de bonde é que se ia.

Não sei bem aonde,
menino que eu era
pois já deveria ser
memória do não ser.

Mas, se o bonde era
eu haveria também de ser
e a paisagem, se havia
ah, se havia, já não seria.

Os trilhos por onde ia
e vinha, eram os mesmos
mas o bonde que ia
não era o que voltava.

E eu, se ia, não voltava
ou era outro, o bonde
em trilhos imóveis
de ir e vir.

 

                      (Brasília, 21/10/2007)

 

 

 
 
 
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